domingo, 23 de agosto de 2015

Sobre a Cath

Esse post é patrocinado pela A Tentiada é Free: não sei fazer, mas vou tentar.
Esse post também é patrocinado e originado pelo Grupo de Suporte Bloguístico pelo tema: música em crônica. A música escolhida pela Maria para mim foi: Cath... do Death Cab for Cutie. 
E, por último, esse post é patrocinado pela banda da minha vida


Para ler ouvindo.

Oi, como você está?

Hoje eu quero te contar uma história.

Não, essa não vai ser a história sobre o dia em que eu passei horas no corredor do hospital e acabei ouvindo de bocas médicas que iria perder o amor da minha vida. Eu poderia te contar essa história, mas não vou. Vou te contar a história sobre a Cath, minha melhor amiga.

Cath e eu crescemos juntas e embora tivéssemos nossas desavenças, que ainda eventualmente acontecem, nós sempre estivemos lá uma para a outra. Ela esteve do meu lado quando eu perdi minha mãe, eu estive do lado dela quando ela perdeu o irmão. Anos mais tarde ela segurou minha mão quando o caixão de Ben fora enfiado numa daquelas gavetas horríveis. Eu aprendi a lidar com o som deles empurrando, literalmente, uma caixa com um corpo pra dentro de uma gaveta de cimento. Aprendi a lidar, mas nunca esqueci. Cath implora-me pra esquecer, eu não consigo. Ela diz que eu tenho que seguir com a minha vida, e isso tem sido difícil. 

Diferente de mim, que tenho o cabelo escuro e cacheado, Cath tem um cabelo loiro muito bonito e liso. Ela sempre manteve ele na altura da cintura mas recentemente cortou na altura dos ombros porque o marido (Cath casou! eu vou chegar lá) dela gosta assim. Ela tenta me convencer de que prefere assim também, porque agora ela cresceu e não tem mais tempo pra cuidar do cabelo, mas algo na voz dela não me faz acreditar nisso. 

Uma coisa que você precisa saber sobre a Catherine (para os não-íntimos) é que ela tem uma mania ridícula (eu constantemente falo isso para ela) de querer resolver tudo sozinha. Uma vez quando éramos crianças ela pisou num caco de vidro e acreditava fortemente que seria capaz de tirar o pedaço ensanguentado do pé sozinha. Ela não conseguiu, é claro, mas ela ainda defende a ideia de que conseguiria. 

Certo dia, dando o braço a torcer, ela me disse que não sabia se estava fazendo a escolha certa  ̶  ela não sabia se estava escolhendo o cara certo, se Andy era o cara certo.

E sinceramente, eu não acho que ela o fez. Digo, a escolha certa. Eu estive com Ben desde a época da escola, mas Cath sempre fora cheia de opções. Ninguém que conhece ela não se encanta. A minha amiga é realmente tudo isso. E Andy nunca me pareceu o cara pra ela. Ninguém manda no coração e todos raramente escutam conselhos, então guardei minhas opiniões para mim. 

Cath é formada em medicina veterinária e tem o melhor coração que alguém poderia ter, mas ela também é muito fechada. Passei a vida inteira ouvindo o quanto ela não queria se casar porque não acreditava em casamento, eu falei pra ela que ela era boba porque casamentos poderiam dar certo (o destino riu da minha cara e me fez viúva mesmo assim). 

No dia do casamento dela ela usou o meu vestido. É de segunda mão e já o era quando eu casei sete anos atrás. Eu fui madrinha, como era esperado, e lá do lado dela no altar eu vi que o sorriso de Cath não chegava no olhar, enquanto o de Andy, que sempre quis casar, parecia soltar-lhe pra fora das orelhas. Cath era ótima com animais e péssima com crianças, o sorriso do dia do casório me lembrou o sorriso que ela deu certa vez para a mãe de uma amiga da sua família enquanto segurava o novo bebê da matriarca. Era um sorriso de eu-não-faço-a-mínima-ideia-do-que-estou-fazendo misturado com eu-preferia-estar-fazendo-outra-coisa.

Entre os poucos convidados, haviam dois ou três amigos que sempre gostaram muito de Cath. Eu até arrisco dizer que eles chegaram a amar Cath durante o pouco tempo em que ela passou com eles. Amores de escola e amores de faculdade, todos com suas respectivas vidas. A vida segue, Cath diz.  

Hoje em dia eu e ela não nos vemos com tanta frequência, mas quando nos vemos parece que nada mudou. Essa semana ela enviou-me uma mensagem dizendo que estava sentindo-se muito mal porque não conseguia engravidar e sentia Andy ressentido e distante por esse motivo. Eu falei pra ela não se preocupar com essas coisas pois adoção sempre seria uma opção, e por óbvio não mencionei o fato de que ela nunca quisera crianças e que parecia que ela estava vivendo o sonho de outra pessoa, não o dela. Ninguém quer ouvir isso, eu acho. 

Sinto-me meio-amarga por Cath. Ela sempre fizera boas escolhas e sempre teve o controle de sua própria vida, respeito-a por isso e não a posso julgar. Em contrapeso, ela parece tão infeliz tentando fazer os outros felizes, ela parece esmagada pelo peso do mundo e ainda assim crê fortemente que assim que tem ser. A vida segue... uma hora melhora... eu tô bem!, diz a Cath. 

Estou escrevendo-lhe essa carta porque preciso saber se a vida adulta é sempre assim: um pensar e não falar? Um escolher e ter que lidar com essas escolhas paralisados de medo de que algo dê errado? Eu sei que fazemos concessões e que nem tudo é fácil, mas poderia ser mais doce? Fica mais doce? Mais leve? Até que ponto é ok conceder? Relacionamentos são fáceis e fluem bem ou precisamos nos esforçar pra que algo dê certo?

Por favor, não esqueça de escrever de volta. Eu amo muito a Cath e quero mostrar para ela a resposta. 

Com amor,

Sarah.

BEDA (blog everyday in august) #23

6 comentários

  1. Ai que coisa mais linda, Ana! Gostei imensamente do seu texto, primeiro porque é Death Cab, banda amor, e, segundo, porque ficou simplesmente perfeito. Embalada pela melodia da música, a carta encaixou tão perfeitamente que estou boba, haha.

    E o que dizer de "Estou escrevendo-lhe essa carta porque preciso saber se a vida adulta é sempre assim: um pensar e não falar? Um escolher e ter que lidar com essas escolhas paralisados de medo de que algo dê errado?" Parece que quando chegamos na tal da vida adulta descobrimos que somos todos fraudes e não fazemos a menor ideia do que estamos fazendo, rs.

    Um beijo! ♥

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  2. Eu adorei muito o seu texto, achei que a música combinou absurdamente, ficou uma coisa maravilhosa (e triste, mas ainda assim maravilhosa) de ler ouvindo. Sou ~leiga~ quando se trata de DCFC, porque eu amo o Plans de paixão, e o Kintsugi tem sido uma companhia maravilhosa, mas os demais álbuns são portas que eu ainda não abri, então essa era uma música que eu ainda não conhecia, mas que eu adorei imensamente??? ahahahaha

    E o final do seu texto, Ana, que perguntas, né? As Grandes Questões, eu acho, estão todas por ali. Talvez eu passe um tempo em crise porque vou ficar pensando sobre isso. ahahahaha

    Beijo!

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  3. Adorei que foi a Sarah que escreveu a carta, amei a referência e o ~easter egg~, hahah. Engraçado, Cath é uma das minhas músicas favoritas do Death Cab (a melhor introdução de todas, e amo quando o Ben diz aquele CATH do começo, meio desesperado, quase gritando), mas nunca parei pra prestar muita atenção na letra da música. Louco isso, né? Mas eu adoro quando ele diz "in a hand me down wedding dress" e adorei ver esse detalhe no texto.
    beijos!

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  4. Ai gente... Isso me lembrou uma história dentro da história de 1Q84 - que eu altamente recomendo se você não leu ainda - e ai </3 não sou muito fã de Death Cab, mas essa história ornou perfeitamente com o tom da música e eu curti muuuuuuito!

    Beijo!

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  5. Eu sinceramente não conheço muito Death Cab for Cutie, mas as poucas músicas que conheço, gosto bastante. Essa em especial tocou meu coração de uma maneira que eu mesma escreveria algo inspirado nela, mas no fim jamais teria escrito um texto tão bom, haha.

    Adorei a carta, e a medida que vou ficando mais madura, as mesmas perguntas do final ficam me assombrando. Me pergunto quantas pessoas não fizeram tantas coisas pra fazer os outros felizes, e no fim a gente quer saber a verdade mas nunca dá pra perguntar assim de cara...

    Beijinhos ;*

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  6. Ana, vou falar pra ti a mesma coisa que eu falei para a Thay: eu li os comentários do grupo e senti vontade de dar um tabefe em vocês, porque todos os textos que li estão ótimos. Não importa o gênero, vocês souberam captar o tema da música muito bem.

    Eu adorei a sua carta. Não conhecia a música, mas conhecia a banda (fez parte da trilha sonora de The OC, hihi), e agora estou me perguntando porque não a ouço mais. Sobre os questionamentos: de vez em quando eu os faço para mim mesma. Passa o tempo e parece que não saber para onde a vida vai nos levar, acaba nos inclinando a fazer escolhas precipitadas, e não tão incomum assim, nos colocar em segundo plano é perder a noção do conceito de felicidade pra nós mesmas. Eu só espero que não aconteça conosco nem com ninguém que a gente conheça.

    E sou super a favor de você e as meninas repetirem a dose da dinâmica. Quem sabe eu tomo coragem e dessa vez faço também? Haha.

    Beijinhos. :*

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Maira Gall